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Costumo brincar, quando passo muito tempo sem conseguir parar para ler notícia (quem lê tanta notícia?) que, se o presidente morrer, eu nem vou ficar sabendo. Pois desta vez foi muito pior. Depois de semanas afundada em trabalho, quando finalmente arrumei uns minutos para navegar, descubro que o pior aconteceu.

Não que já não houvesse sinais. Eles estavam aí para todo mundo ver. Os mais nerds já tinham até preparado arsenais e estratégias de sobrevivência. Já tinha lido alguns com aquele ar de “por que raios estão discutindo isso como se pudesse um dia ser real?”. Merda. Eu devia ter lido com mais atenção.

E, como esperado, foi justamente nos blogs mais nerds que descobri. Ninguém sabe como tudo começou, mas há algumas teorias. Nós, aqui nos confins do Sacomã, felizmente ainda estávamos a salvo. Foi por pouco. Eu estava buscando nos blogs de rpgistas mais notícias para saber quem ainda estava vivo (em SC, pessoal tá segurando as pontas; o Paraná está tomado; será que a Elisa resistiu lá em João Pessoa? Precisamos avisar Rafaella e Dinart, lá em Campina Grande, para se prepararem; será que algum amigo parecia doente esses dias?). Enquanto lia e pensava no melhor lugar para onde podíamos correr, ouvimos barulhos vindo do alto da ladeira onde moramos.

Quando olhei pela janela, eles estavam descendo a rua em bando. Uma horda de zumbis trazendo a destruição ladeira abaixo. Me lembrei das primeiras aventuras que jogamos com o Tchelo em Ravenloft. A “pequena” diferença era que, lá, eu era uma guerreirona fodona combada de 6º lvl, que desceu a espada cortando cabeças de zumbis na seqüência que um Trespassar Aprimorado permitia.

Aqui, eu era apenas uma magrela de menos de 50 kg que mal acerta uma barata com uma vassoura. Não dava tempo para pensar. Precisávamos fugir, e rápido. Peguei bolsa, celular, algum pão velho que estava ainda na mesa da cozinha, enquanto o Edson corria para buscar as chaves e abrir o portão. Por sorte, o tanque do nosso praguinha estava cheio. Abri a porta, o cachorro entrou correndo (já devia estar farejando o perigo esse nosso pequeno caçador. Parece que animais não são afetados. Tomara), e conseguimos fugir a tempo. Zumbis são lentos, são lentos, fui repetindo enquanto dirigia sem rumo.

Para onde iríamos? Só tinha conseguido ler notícias de outras cidades! Como será que estava o restante de São Paulo? Ligamos para o Tchelo para saber se podíamos nos abrigar na casa deles. Podíamos. Ufa.

Quando chegamos perto da Paulista, porém, parecia dia seguinte a vitoria de time de futebol em campeonato. A região do Paraíso estava devastada. Como não tínhamos encontrado sinais deles até ali, eles só podiam estar vindo da Consolação. E agora? que caminho fazer? Meu Deus! O Kenzo mora por aqui! Foi só no que conseguimos pensar. Largamos o carro ali mesmo e corremos para o prédio do nosso amigo.

Estava tudo destruído. O portão aberto à força e restos de corpos pelo chão. Subimos os mais de dez andares pela escada com nosso fôlego de casal sedentário, tentando encontrá-los pelo celular, que nem chamava. Essas porcarias sempre falham na hora em que mais precisamos delas. Eles não estavam mais no apartamento. Teriam sobrevivido?

Recolhemos algumas bolachas que estavam pela mesa, uma garrafa de Coca-cola (eles não têm água, mas sempre têm Coca na geladeira…) e voltamos ao plano inicial. Quando chegamos à rua, nosso carro não estava mais onde deixamos. Algum desesperado deve ter usado para fugir. Fizemos o mesmo. Uma pick up estava a um quarteirão dali com a porta aberta. Assim que nos aproximamos, pudemos ver o motivo. Havia um corpo a poucos metros dali totalmente destroçado. Mal dava para notar que tinha sido uma mulher, não fossem suas coisas esparramadas por perto: bolsa, sapatos, celular rosa e maquiagem. Muita maquiagem espalhada. Perua.

Enquanto subíamos na pick up, pudemos ver a horda de zumbis rondando a Paulista novamente. Eram muitos. Famintos.

A chave ainda estava no contato. Pickups são o inferno para mim, que sou baixinha. Mal alcanço o o pedal, mas na hora nem notei. No caminho, ela me foi útil. Tinha ainda aquelas grades no para choque, que me serviram bem na hora de atropelar alguns zumbis no caminho. Por sorte, consegui encontrar só alguns desgarrados na região dos jardins. A horda estava mesmo na Paulista.

Com muita sorte, chegamos vivos na casa do Tchelo e da Lina. Eu, marido e o cachorro. Mal pudemos esperar o portão abrir, acabamos amassando toda a lataria de cima da pickup. Ainda bem que moram no primeiro andar. Enquanto eu gritava por eles lá de baixo, o marido subiu as escadas correndo para ajudá-los a pegar o máximo de suprimento que pudessem.

Enquanto espero por eles, dou uma olhada na mochila do marido-nerd para ver o que ele tinha conseguido pegar e encontro seu notebook. Que raios de marido nerd que carrega o notebook até numa situação dessas? Aproveito os poucos minutos que tenho para escrever esta mensagem de alerta aos que conseguirem me ler. Quando conseguirmos roubar um wi-fi qualquer no caminho, publicamos.

São Paulo está tomada. Do que vi, uma horda ronda a Paulista e outra chega do ABC lá pela região de Heliópolis. Fujam como puderem.

 

Obs.: Este post faz parte do meme Dia Z, iniciado no Pop Dice e seguido por diversos ótimos blogs de RPG. E é, claro, tudo ficção. 😉

Obs. 2: As artes que ilustram este post foram tiradas da ótima revista Cão #3 (capa ao lado), que narra justamente uma invasão de zumbis na avenida Paulista. Na mesma revista, você encontra mais desenhos da Rafaella Ryon. Para saber mais sobre a Cão e pedir um exemplar, entre no site da Vermis.

Obs. 3: As fotos que ilustram este post são retiradas do Flickr e registram a Zombie Walk que rolou em Sampa em 2008. Para conhecer outras fotos dos autores, clique nas imagens.

Obs. 4: Infectamos o Tchelo e a Lina, do RPG Planet, e o Kenzo, do Oznek. Boa sorte!

6 comentários sobre “Z

  1. Olá! Sou do blog rpg sem compromisso e desde ontem voltei a administrar o blog Zona Neutra, do qual participei no inicio. O Alexandre se juntou a Mestre Meyer e estão agora trabalhando no blog PCPronto.

    Por isso envio esse cometário para saber se existia uma parceria entre o blog Zona Neutra e o Blog do Taulukko? Pergunto isso por que no blog ZN tem um banner do blog Taulukko, como sendo um parceiro.

    Em caso de resposta afirmativa gostaria de saber se existe a possibilidade de continuar com a parceria? Se a reposta for naum, gostaria de saber se existe a possibilidade de iniciar uma?

    Quanto ao blog confesso que não acompanhava, mas gostei e agora passarei a acompanhar. Porem, não sou muito de comentar.

    Desde já agradeço a atenção.

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